sábado, 3 de abril de 2010

arte e a cidade

Arte na cidade se mesclam numa relação simbiôntica na qual o objeto sensível (obra ou cidade) somente pode ser percebido por um olhar sensível (do sujeito) que se forma a partir do momento que se coloca frente a frente com objetos sensíveis do mundo sensível. Assim, obra, cidade e sujeito constituem uma tríade inseparável que torna o mundo perceptível. Não se pode, pois, falar na prioridade de um sobre o outro e, muito menos, na idéia de que um seja o produtor do outro. Aponta-se o fim do conceito clássico de autoria na produção contemporânea, em específico, naquilo que se pode esboçar como arte pública ou como intervenções urbanas.
Portanto, se nos últimos anos parecem ter se rompido as fronteiras de gêneros da arte ? na realidade, romperam-se as fronteiras das verdades ?, é preciso também que na arte contemporânea passemos a refletir, discutir e ampliar a noção de autoria para além do contorno psicológico (e autógrafo) atribuído a ela. É claro que o conceito de autoria, em tempos de ciberespaço, já se vê em re-elaboração, pois vários são os agentes produtores de um mesmo objeto nesse mundo em rede.
A arte pública, como um objeto em rede integrante da complexa malha da imagem urbana, resulta de intersubjetividades mais do que de intra-subjetividades, ou seja, resulta da interação de autores externos. Se entendido o conceito de colaboradores externos (co-autores anônimos: espectador, visitante, habitante, transeunte), admite-se, então, o conceito híbrido de autoria: diferentes sujeitos, com diferentes saberes e papéis. Ainda se fala em sujeito (coletivo) psicologicamente instituído, mas Biasi (2002) permite compreender que a gênese da obra de arte inserida em diálogo com a cidade tem sempre um lugar onde se instaura esse outro ?coletivo?, configurado pela cidade, pela rua ou pela paisagem.
Admitir que a cidade é uma paisagem, é pensar sobre o lugar do coletivo social no processo de criação, especificamente nas artes visuais. Falamos aqui sobre um autor que não é psicologicamente constituído, mas que produz uma obra: a cidade em si. Deste modo, podemos pensar que teremos obras de arte que não são autógrafas ? não no sentido tradicional do termo. Se a cidade é a obra, seus índices são documentos processuais que refletem saberes e fazeres coletivos, mediados por uma memória coletiva cuja chave está na cultura que a constitui.
Pensar a cidade como obra é algo que há muito vem sendo debatido. Na cidade contemporânea, todo aparelho gestacional que a envolve parece carregar seus habitantes numa carruagem frenética rumo a um desconhecido, mas previsível mundo, onde as pessoas acham ser possível tocar o futuro antes mesmo de viver o presente. A busca de soluções criadas para necessidades previstas assim como uma constante insatisfação têm caracterizado o habitante pós-moderno que facilmente esquece o passado, fecha os olhos para o presente e sonha com um futuro. Porém, esses diferentes tempos interagem e decorrem de como a cidade e a obra nela inserida mostram-se como tal. A cidade, em sua identidade, espelha a identidade dos convivas, pois existe uma força que se torna muito mais influente em cada local devido à sua característica de autenticidade (do habitante e da cidade).
Neusa Mendes e Jose cirilo

Um comentário:

  1. Este é um trecho do texto? Tem ele na íntegra?
    Disponibiliza nos encontros! Queria ler mais...

    Rubi

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