sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tatuí 8




A oitava edição da Revista Tatuí de Crítica de Arte será lançada neste domingo, 25 de abril, a partir das 16h, no Museu Murillo La Greca, em Pernambuco, e na sexta-feira seguinte, 30 de abril, no Beco da Arte, em São Paulo.


A publicação, editada pelas pesquisadoras da área de artes visuais Clarissa Diniz e Ana Luisa Lima, conta com 30 textos colaborativos de artistas e pesquisadores do País, e apresenta sua versão online em www.revistatatui.com


Para dar “corpo” ao material, as editoras convidaram o artista Rafael Campos Rocha para realizar intervenções gráficas em cima dos temas abordados pelos textos. Entre os nomes reunidos nesta oitava edição, Maicyra Leão, Oriana Duarte, Nicole Cosh, Manuel Segade, Cristhiano Aguiar, Paulo Whitaker e Daniela Labra.


A revista surgiu em forma de fanzine, sendo concebida durante o SPA das Artes (evento anual de artes visuais da cidade), sob a ideia de uma crítica de imersão, experimento de crítica de arte que pretendia não se vincular à concepção de distanciamento crítico.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

DOIS TEMPOS...




24 de abril de 1905



Neste mundo, existem dois tempos. Existe o tempo mecânico e o tempo corporal. O primeiro é tão rígido e metálico quanto um imenso pêndulo de ferro que balança para lá e para cá, para lá e para cá, para lá e para cá. O segundo se contorce e remexe como uma enchova na baía. O primeiro não se desvia, é predeterminado. O segundo toma as decisões à medida que avança.

Muitos não acreditam que o tempo mecânico exista. Quando passam diante do grande relógio na Kramgasse, não o vêem; tampouco escutam suas badaladas quando estão despachando pacotes na Postgasse ou caminhando entre flores na Rosengarten. Usam relógios de pulso mas apenas como ornamento ou como cortesia para com aqueles que acreditam ser instrumentos de medição de tempo um bom presente. Em suas casas eles não tem relógios. No lugar deles, ouvem as batidas dos seus corações. Eles sentem os ritmos de seus humores e desejos. Essas pessoas comem quando sentem fome, vão para o trabalho, na chapelaria, ou no laboratório, na hora que despertam do seu sono e fazem amor a qualquer hora do dia. Essas pessoas riem só de pensar no tempo mecânico. Sabem que o tempo se movimenta espasmodicamente. Sabem que o tempos e arrasta para frente com um peso nas costas quando estão levando uma criança as pressas para o hospital ou quando têm que sustentar o olhar de um vizinho que foi vítima de alguma injustiça. E sabem também que o tempo atravessa em disparada seu campo de visão quando estão saboreando uma boa comida com amigos ou sendo elogiadas ou quando estão deitadas nos braços de um amante secreto.

Por outro lado, há aqueles que pensam que seus corpos não existem. Eles vivem de acordo com o tempo mecânico. Levantam-se às sete da manhã. Almoçam ao meio dia e jantam às seis. Chegam aos compromissos pontualmente, na hora marcada. Fazem amor entre oito e dez da noite. Trabalham quarenta horas por semana, lêem o jornal de domingo a domingo, jogam xadrez nas terças à noite. Quando seus estômagos reclamam, olham o relógio para saber se é hora de comer. Quando começam a ficar desatentos em um concerto, olham o relógio acima do palco a fim de ver quanto tempo falta para ir para casa. Sabem que o corpo não é resultado de uma mágica fantástica mas uma coleção de elementos químicos, tecidos e impulsos nervosos. Pensamentos não são mais que oscilações elétricas no cérebro. Excitação sexual não passa de um fluxo de elementos químicos para as extremidades de certos nervos. Tristeza nada mais é que um pouco de ácido transfixado no cérebro. Em resumo, o corpo é uma máquina, sujeito às mesmas leis da eletricidade e da mecânica que um elétron ou um relógio. Portanto, ao falar do corpo deve-se usar a linguagem da física. E, se o corpo fala, é a fala de nada mais que um número de alavancas de forças. O corpo não é uma coisa que se obedece e sim uma coisa que se manda.

Respirando-se o ar noturno ao longo do rio Aare, é possível encontrar evidências de dois mundos em um. Um barqueiro calcula a posição e seu barco no escuro contando os segundos em que é levado pelo curso de água. “Um, três metros. Dois, seis metros. Três, nove metros.” Sua voz rasga a escuridão com sílabas claras e seguras. Sob um poste de luz na ponte Nydegg, dois irmãos que não se viam fazia um ano bebem e riem. O sino da catedral de St. Vincent bate dez vezes, em segundos apagam-se as luzes dos apartamentos perfilados na Schifflaube, numa perfeita resposta mecanizada, como as deduções da geometria de Euclides. Deitados à margem do rio, dois amantes olham preguiçosamente para o céu, despertados de um sono atemporal pelos distantes sinos da igreja, surpresos por perceberem que a noite caiu.

Onde os dois tempos se encontram, o desespero. Onde os dois tempos se separam, a satisfação. Pois, milagrosamente, um advogado, uma enfermeira, um confeiteiro podem construir um mundo em qualquer um dos tempos, mas não nos dois. Cada tempo é verdadeiro, mas as verdades não são as mesmas.


LIGHTMAN, Alan. Sonhos de Einstein. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Joseph Beuys




IMPERDÍVEL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Beuys vem aí por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo


Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 2 de abril de 2010.

Fora da 29ª Bienal, obra de Joseph Beuys, o mais importante artista alemão do século 20, ganha exposição no Sesc Pompeia.

A 29ª Bienal de São Paulo, programada para ser aberta ao público em 25 de setembro, não vai apresentar a obra do artista alemão que melhor sintetizou a relação entre arte e política, Joseph Beuys (1921 - 1986), apesar de seu nome ter sido considerado pela curadoria, segundo apurou a Folha.

Faria todo sentido, afinal a Bienal tem por tema central justamente as aproximações entre arte e política, e Beuys abordou esse tema especialmente nas décadas de 1960 e 1970, período que vai receber atenção especial no Ibirapuera.

Mesmo assim, Beuys estará presente na cidade, na maior mostra já dedicada a ele no país, em exposição paralela à Bienal, organizada pela Associação Videobrasil e pelo Sesc São Paulo.
"Essa exposição é nosso aporte à Bienal, dentro da ideia do "São Paulo, Polo de Arte Contemporânea", em fazer com que instituições da cidade contribuam para adensar as propostas da curadoria da Bienal", diz Solange Farkas, diretora do Videobrasil.

Ela organiza a exposição dedicada ao artista alemão no Sesc Pompeia, mesmo local que abrigou "Cuide de Você", instalação de Sophie Calle, no ano passado.

Com o título "A Revolução Somos Nós", nome de um dos mais famosos pôsteres do artista, reproduzido à direita, a mostra terá curadoria de Antonio Davossa, da Academia de Arte de Milão, que acompanhou Beuys em muitas de suas viagens à Itália. A produção italiana do artista, aliás, será o foco da mostra.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

Encontro 19/04



CIDADE

Os textos foram enviados por email e tb estão disponíveis para xerox na secretaria do PPGPSI - Cemuni VI com a Soninha.

A Cidade como corpo sem orgãos - Sérgio Prucoli

Corpografias Urbanas - Paola Jacques (Bibliografia complementar).



Caminho das Águas (Intervenção Urbana) - Piatan Lube

Site: caminhodasaguas.art.br/

terça-feira, 6 de abril de 2010

Cult Blasé...



[...] Não há mais tempo para ter somente os humanos como aliados. Nem espaço para descartar tantos objetos transformados em lixo. Estes luxos agonizam. Também não é possível (e esperamos que não seja desejável) simplesmente inverter os termos de uma antiga relação de dominação e colocar não humanos no lugar dos humanos. Mas, paradoxalmente, ainda é tempo de combater a indiferença.

Há quem considere a indiferença pior que a dor. Sentir dor é ainda um modo de sentir, de se confrontar com a vida. Mas a indiferença é como um corpo de sombra sem perfis. Não tem cor nem carne. Não tem lado e nem quina, é difícil confrontá-la. Quem é atacado pela indiferença transforma o corpo em alma penada, passa de um canto a outro sem nenhuma melodia. Nunca se sabe quando a indiferença chega ou quando parte. Assemelha-se ao câncer.. Uma vez presente, ela ocupa todo o espaço de um pingo de vergonha de ser desmedida. A indirefença sinaliza que a diferença fracassou. Não é como o tédio, porque este já possui algum gosto, pode ser comparado a um corpo feito de lados.

Mas há quem considere que pior do que a indiferença é a sua estetização. Uma indiferença que faz pose supõe possuir alguma solidez. Ela tem ambições de rimar com a vida dos grandes homens. No lugar de um alheamento sem esperança, a estetização da indiferença espera obter aquilo que aparenta negar: sua aparição gloriosa. Esta estetização é epidêmica. Precisa ser vista como uma peste. Seu combate pede gestos sem ilusão nem desespero e é uma maneira de encontrar a espessura das coisas e dos seres: não para consumi-los, mas para ver seus modos de existir. Isto inclui os objetos comezinhos e os seres ordinários. Ver os modos de existir de uma panela, uma montanha, um rio, uma rua, um sofá, um ser humano, um cão... Sem devoção, aversão ou vontade de tirar-lhes a pele. Sem consumo. Sem achar que o tempo está sendo perdido. Considerar não somente os corpos vivos mas também os objetos como memórias ativas. Estas razões já seriam suficientes para concluir que uma visão como esta é menos um bálsamo, um tranqüilizante ou uma terapia do que uma arma revolucionária.

Que esta arma seja bem vinda, pois sempre estivemos numa guerra. Dentro de casa e nas ruas, nos aeroportos, hospitais, clubes e empresas, trata-se de contrariar a homogeneização das experiências e as excessivas estilizações do afeto. [...].

[...] Hoje a produção da miséria do afeto por si implica, imediatamente, a escassez de afeto pelo outro.


SANT’ANNA. Denise Bernuzzi de. Corpos-Passagens. In: Corpos de Passagem: ensaios sobre a subjetividade contemporânea. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. P. 117.

Tempo: a vida comprimida em um dia...



Exercício proposto no último encontro...
Linkar o texto com processos do seu cotidiano. Imagem, áudio, vídeo, escrita, fala, passagens, prática, tantos outros possíveis...

3 de junho de 1905

Imagine um mundo em que as pessoas vivem apenas um dia. De duas uma: ou o ritmo das batidas cardíacas e da respiração é acelerado de modo a comprimir uma vida inteira no espaço de um giro da Terra em torno do seu próprio eixo, ou a rotação da Terra é desacelerado a uma marcha tão lenta que uma volta completa ocupa uma vida humana inteira. Qualquer uma das interpretações é valida. Em qualquer um dos casos, um homem ou uma mulher presencia apenas uma aurora e um crepúsculo.

Neste mundo, ninguém vive o suficiente para testemunhar a mudança das estações. Uma pessoa que nasce em dezembro em qualquer país da Europa nunca vê o jacinto, o lírio, o áster, o cíclame, o educais, nunca vê as folhas de bordo ficarem vermelhas e douradas, nunca vê os grilos ou os pássaros canoros. Uma pessoa que nasce em dezembro passa a vida com frio. Da mesma forma, uma pessoa que nasce em julho nunca sente flocos de neve no rosto, nunca vê a superfície congelada de um lago, nunca ouve o ranger peculiar de botas na neve fresca. A variedade das estações só é conhecida através dos livros.

Neste mundo, uma vida é planejada pela luz. Uma pessoa que nasce quando o sol está se pondo passa a primeira metade da vida no período noturno, aprende ofícios específicos para ambientes fechados, como tecelagem e fabricação de relógios, lê muito, se torna intelectual, come demais, tem medo do vasto breu do lado de fora, aprecia a penumbra. Uma pessoa que nasce com o sol aprende profissões que são exercidas ao ar livre, como ser pedreiro e cuidar de fazendas, mantém a forma física, evita livros e projetos mentais, é ensolarada e autoconfiante, não teme nada.

Tanto as pessoas que nasceram na aurora quanto as que nasceram no crepúsculo sofre um baque quando a luz muda. Quando nasce o sol, aqueles que nasceram quando o sol se pôs são arrebatados pela súbita visão das árvores e oceanos e montanhas, são cegados pela luz do dia, voltam para suas casas, cerram as janelas e passam o resto de suas vidas a meia-luz. Quando vem o pôr-do-sol, aqueles nascidos na aurora choram devido ao desaparecimento dos pássaros no céu, das tonalidades de azul no mar, do hipnótico movimento das nuvens. Choram e se recusam a aprender os ofícios da noite, deitam-se no chão e olham para cima no esforço de ver o que viram no passado.

Neste mundo em que a duração de uma vida humana não passa de um dia, as pessoas prestam atenção no tempo como gatos que sintonizam suas antenas nos ruídos do sótão. Pois não há tempo a perder. Nascimento, escola, romances, casamento, profissão, velhice, tudo precisa caber em uma trajetória do sol, uma modulação de luz. Quando as pessoas se cruzam na rua, tocam levemente seus chapéus e prosseguem apressadamente seus caminhos. Quando visitam ou são visitadas, perguntam umas às outras como vão de saúde e então retomam seus afazeres. Quando se reúnem em cafés, observam nervosamente as mudanças das sombras e nãos e demoram. O tempo é precioso demais. Uma vida é um momento em uma estação. Uma vida é uma precipitação na neve. Uma vida é um dia de outono. Uma vida é uma delicada faixa de luz sendo rapidamente devorada pela penumbra quando se fecha uma porta. Uma vida é um fugaz movimento de braços e pernas.

Quando se chega a velhice, na luz ou na escuridão, uma pessoa descobre que não conhece ninguém. Não houve tempo. Os pais morreram no meio do dia ou da noite. Irmãos e irmãs mudaram-se para cidades longínquas a fim de aproveitar oportunidades fugidias. Amigos mudaram no ritmo da evolução do sol no céu. Casa, cidades, empregos, amantes, tudo foi planejado para caber em uma vida limitada a um dia. Uma pessoa idosa não conhece ninguém. Ela conversa com as pessoas, mas não conhece. Sua vida está espalhada em fragmentos de conversas, esquecida por fragmentos de pessoas. Sua vida é dividida em episódios efêmeros, testemunhados por poucos. Ela senta no criado-mudo, ouve o som da água que corre pela torneira da banheira, pergunta-se se alguma coisa existe fora de sua mente, Aquele abraço da mãe realmente existiu? Aquela rivalidade divertida com a colega de escola realmente existiu? Aquele primeiro arrebatamento sexual realmente existiu? Aquela amante existiu? Onde estão agora? Onde estão agora, quando a pessoa está sentada no criado mudo, ouvindo o som da água que corre pela torneira, percebendo vagamente a mudança da luz?


LIGHTMAN, Alan. Sonhos de Einstein. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

sábado, 3 de abril de 2010

arte e a cidade

Arte na cidade se mesclam numa relação simbiôntica na qual o objeto sensível (obra ou cidade) somente pode ser percebido por um olhar sensível (do sujeito) que se forma a partir do momento que se coloca frente a frente com objetos sensíveis do mundo sensível. Assim, obra, cidade e sujeito constituem uma tríade inseparável que torna o mundo perceptível. Não se pode, pois, falar na prioridade de um sobre o outro e, muito menos, na idéia de que um seja o produtor do outro. Aponta-se o fim do conceito clássico de autoria na produção contemporânea, em específico, naquilo que se pode esboçar como arte pública ou como intervenções urbanas.
Portanto, se nos últimos anos parecem ter se rompido as fronteiras de gêneros da arte ? na realidade, romperam-se as fronteiras das verdades ?, é preciso também que na arte contemporânea passemos a refletir, discutir e ampliar a noção de autoria para além do contorno psicológico (e autógrafo) atribuído a ela. É claro que o conceito de autoria, em tempos de ciberespaço, já se vê em re-elaboração, pois vários são os agentes produtores de um mesmo objeto nesse mundo em rede.
A arte pública, como um objeto em rede integrante da complexa malha da imagem urbana, resulta de intersubjetividades mais do que de intra-subjetividades, ou seja, resulta da interação de autores externos. Se entendido o conceito de colaboradores externos (co-autores anônimos: espectador, visitante, habitante, transeunte), admite-se, então, o conceito híbrido de autoria: diferentes sujeitos, com diferentes saberes e papéis. Ainda se fala em sujeito (coletivo) psicologicamente instituído, mas Biasi (2002) permite compreender que a gênese da obra de arte inserida em diálogo com a cidade tem sempre um lugar onde se instaura esse outro ?coletivo?, configurado pela cidade, pela rua ou pela paisagem.
Admitir que a cidade é uma paisagem, é pensar sobre o lugar do coletivo social no processo de criação, especificamente nas artes visuais. Falamos aqui sobre um autor que não é psicologicamente constituído, mas que produz uma obra: a cidade em si. Deste modo, podemos pensar que teremos obras de arte que não são autógrafas ? não no sentido tradicional do termo. Se a cidade é a obra, seus índices são documentos processuais que refletem saberes e fazeres coletivos, mediados por uma memória coletiva cuja chave está na cultura que a constitui.
Pensar a cidade como obra é algo que há muito vem sendo debatido. Na cidade contemporânea, todo aparelho gestacional que a envolve parece carregar seus habitantes numa carruagem frenética rumo a um desconhecido, mas previsível mundo, onde as pessoas acham ser possível tocar o futuro antes mesmo de viver o presente. A busca de soluções criadas para necessidades previstas assim como uma constante insatisfação têm caracterizado o habitante pós-moderno que facilmente esquece o passado, fecha os olhos para o presente e sonha com um futuro. Porém, esses diferentes tempos interagem e decorrem de como a cidade e a obra nela inserida mostram-se como tal. A cidade, em sua identidade, espelha a identidade dos convivas, pois existe uma força que se torna muito mais influente em cada local devido à sua característica de autenticidade (do habitante e da cidade).
Neusa Mendes e Jose cirilo